Enquete inquietante

Na mesma proporção que as virtudes e as graças da vida, o sofrimento existi em todas as esferas de nossa bioexistência, ou seja, se sofre por dentro (doenças e problemas psíquicos), por fora (enfermidades físicas ou psicossomáticas), e por influências externas e independentes do nosso corpo (acidentes e catástrofes naturais). E quando não se tem tais angustias para se prantear, chora-se também pelas aflições alheias. Mas por que sofremos tanto? Esta pode ser considerada uma enquete que inquieta e desestimula corações desde os primórdios do observatório filosófico da vida, e, para tanto, merece a nossa atenção.

Jesus não levou nossas dores (Is 53:4), pelo menos não literalmente, pois o mesmo já dizia: "No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo." (Jo 16:33). E por isto é inevitável, para qualquer um de nós, confeccionar um paralelo entre o deus utópico e irreal que se prega mundo a fora e as chagas diárias vividas pelos habitantes deste mundo. A nossa constante análise da pobreza, da violência, das mortes, da corrupção, das infelicidades, das epidemias de problemas, da nossa transitoriedade e das demais negatividades de nosso cotidiano, só nos torna cada vez mais insatisfeitos com a misericórdia e com o amor de Deus.

Entretanto, falta à sociedade desta e de todas as futuras gerações, colocar outro óculos para enxergar a dor com outros olhos, ou seja, os óculos do otimismo. A agonia é parcialmente ruim, mas não é totalmente. Ela só é maléfica no ato de quando faz alguém sofrer, mas e os seus posteriores e consequentes benefícios? Ninguém se lembra. Só a dor de pisar em um prego enferrujado pode fazer com que a pessoa que pisou saiba disto e, portanto, se medique para que não morra de Tétano; só a dor de ser picado por um mosquito transmissor de alguma chaga pode levar alguém ao conhecimento da picada, o fazendo procurar um médico. O que seria de nós se não existissem dores para indicar tumores ou feridas para se evitar mortes?

A dor, neste caso, não é só dolorosa, pois é também uma acusadora preventiva da possibilidade de dores piores. Não será isto positivo para os nossos poucos anos de vida? Assim sendo, conclui-se que todos os gêneros do sofrimento humano possuem também a sua positividade. Seja pelas obras de Deus (Jo 9:1-3), para mostrar o poder divino (Ex 9:16) ou para correção (Hb 12:6-7), não faz diferença, o sofrimento se faz presente e é necessário mesmo que às vezes para fins desconhecidos. Na maioria das vezes ou de um ponto de vista mais ousado: em todas as vezes, o sofrimento serve para que Deus, em seu último propósito, demonstre a sua dinâmica e multiforme graça, ou seja, Ele bate e assopra para que, através de suas palmadas, possamos ver a sua misericórdia em assoprar (Jó 5:17-18), mas nem sempre é o que enxergamos.

Não digo que é fácil aceitar o que escrevo. Escrevo que é fácil entender o que digo, mas só entender, admitir isto é desumano e divino demais para nossa observação. E por isto, rogo-vos que aceitais o único convite que lhes pode anestesiar tais dores: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.” (Mt 11:28-30). Esta última frase deixa claro que o reino de Deus não é um reino de ausência de dor, mas sim um império de analgésicos espirituais e de consolação para todas as manhãs.

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