O que a Bíblia não é

Não é bula de remédio:

A Bíblia não é um livro sistemático de recomendações claras e diretas para a vida de quem a lê. Em seu estudo, é necessário ter paciência, observação e interpretação dos fatos práticos que ocorrem na narração de seu conteúdo, para então, tentar reproduzir em seu cotidiano os acertos, as bem-aventuranças e as bênçãos dos heróis da fé, dos profetas, apóstolos e dos demais exemplos positivos para a nossa conduta. A sistematização e a "organização" que muitos querem atribuir e adicionar à Bíblia é uma concepção humana, e por fim teológica de estudo, não fazendo portanto parte de sua essência e profundidade. Já disse e repito: Deus não é sistema e nem sistematiza nada. Isto é coisa de homem, de homem cristão.

Não é receita de bolo:

A Bíblia também não é de forma alguma uma receita de bolo. Em sua extensão não se encontra e nem se poderia encontrar textos que atenderiam a todas as possibilidades de problemas e de questões humanas. Ela responde sim aos questionamentos pivotais da existência e da mente. Mas procurar resposta para todas as minúcias e probabilidades de acontecimentos da vida é infantilidade teológica e trabalho vão. É enxergá-la diretamente como uma receita onde se encontra: ingredientes, modo de preparar, modo de fazer, observações e etc. A consciência cristã, as experiências e o bom-senso sempre estiveram presentes no comportamento de Jesus, porque ele não era bibliólatra como os fariseus e escribas de sua época, que pensavam existir nas Escrituras tudo e absolutamente tudo sobre o bolo (vida) de cada um de nós. Algo como os tradicionais de hoje.

Não é quebra-cabeça:

São muitos os teólogos que para pregar, ensinar ou concluir algo no mainframe bíblico, ficam juntando peças de versículos, meio-versículos, palavras e expressões dos textos para conceber informações e idéias secundárias que nunca poderão ser provadas pela falta de provas reais e concretas de sua veracidade. A cogitação e a manipulação destes pequenos achados acaba deixando a aparência indigestiva de que Deus espalhou segredos, labirintos, enigmas, charadas e de fato quebra-cabeças em sua palavra. Pior fica quando estes estudiosos começam a fundir estas pólvoras teológicas com ciências seculares para construir suas descobertas. Para tanto, cito como exemplo o livro: “O Código da Bíblia”. Daí, está formado o jogo de elos perdidos e a falta total de compreensão do propósito fundamental da Palavra: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil PARA O ENSINO, PARA A REPREENSÃO, PARA A CORREÇÃO, PARA A EDUCAÇÃO NA JUSTIÇA,...” (2 Timóteo 43:16), e não para brincar de pique-esconde com o seu conteúdo.

Não é Mega-Sena:

Quem nunca viu a caixinha de promessas, onde se tira um versículo para cada momento em que se quer a ajuda da palavra de Deus? Ou também o “dedo detector de versículos com auxílios específicos” que é colocado aleatoriamente  na Bíblia para encontrar ajuda nos textos? É como jogar na mega ou na quina. Parece-me que os usuários destes métodos não necessitam ou não desejam ler o texto bíblico em sua inteireza para buscar a vontade de Deus. Não duvido de forma alguma que a Palavra viva e eficaz do Senhor possa falar com quaisquer indivíduos de forma única e objetiva, porém fazer o que descrevi acima é agir de forma totalmente ignorante em relação à leitura das Escrituras.

Não é dicionário:

Ninguém lê dicionário, as pessoas os consultam quando precisam de suas informações. Entretanto, de maneira nenhuma, isto pode acontecer com o relacionamento homem-Bíblia, pois esta última precisa ser manuseada diaria e periodicamente em um parâmetro devocional, sem a consciência de uma necessidade própria para lê-la, mas de amor à palavra, de desejo pela vontade de Deus e de ânsia por submissão ao criador. Não podemos ser como os porcos, que só olham para o Céu quando deitam na lama, isto é, não podemos olhar para Deus somente quando estamos com angústias e aflições, deixando-o de lado quando estivermos em um aparente mar de rosas existencial.

Enfim...

A Bíblia está acima e é diferente de todas as informações que se utilizam da escrita.

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