Tempos e templos

           A Igreja, da forma como é concebida hoje, é sem sombra de dúvidas uma caricatura cristã do antigo Templo e dos tempos dos Hebreus. Nós, do Novo testamento, ainda não conseguimos ou não tivemos a ousada coragem de nos desligar por completo dos aspectos meramente litúrgicos e ritualísticos do Judaísmo. E para tanto, elegemos o nosso sacerdote (Pastor), os nossos levitas (ministros de louvor) e o nosso dia santo (Domingo); o púlpito se tornou um altar, a bandeira de Israel invade os cultos e até candelabros se espalham pelos templos.
            Foi-se o tempo em que Deus se metia em lugares construídos e arquitetados por mãos humanas (At 17:24). Agora nada importa, nem sinagoga, nem tabernáculo, nem templo e nem Igreja...de tijolos claro. Pois a igreja neotestamentária cuja fundação estava na mente e na agenda de Cristo, está sim possui a presença de Deus em seu meio, mas ela é uma situação e não um lugar estabelecido, e a mesma se conclui e só existe quando ocorre a reunião dos discípulos de Jesus e exclusivamente em Seu nome; de forma que quando se despedem os crentes dos chamados templos, estes voltam a ser apenas prédios, sem vida, sem graça e sem Deus. Portanto, a Igreja pode acontecer num boteco, numa calçada e até mesmo em um edifício com placa de igreja.
            Santo é o povo de Deus. Sagrado é o partir do pão e o beber do cálice. Santificado é o batismo na autoridade do nome de Cristo. Mas quando levamos estes valores e atribuições espirituais a ritos religiosos e aos componentes físicos do cristianismo, estamos ignorando o passar dos anos e o andar do tempo, sem falar na divisão que o mestre fez na cruz para não nos ligarmos mais a estes rudimentos e oblações com aparência de rigor ascético. Importa pra Deus que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade, sem uma conexão real com roupas, datas, horários, lugares e etc. O Deus de Israel não mudou. Só não é mais a mesma, a forma como ele deseja se relacionar com o seu povo, depois do ocorrido no calvário.
             A Igreja ainda marginaliza as mulheres, infantiliza os leigos e diviniza os seus guias; um comportamento de mesma proporção aos postulados de valores e costumes dos judeus. Somos israelitas do mundo, e não nos preocupamos com isto. Nos importamos mesmo é com o alargamento dos nossos filactérios e o alongar de nossas franjas (Mt 23:5). O modelo de religião abraâmico e que posteriormente foi sistematizado por Moisés, nos influencia categoricamente em nosso conceito de culto e de vida, quase que sem uma consciência arbitrária para julgar todas as coisas e reter o que é bom.
             Não quero mais ser um menino no juízo, como certa vez disse Paulo aos coríntios. Somos herdeiros de um prisioneiro político e torturado pelos romanos, a mando dos judeus. Por isto, o Deus a quem eu sirvo não tem mais ligação alguma com este povo étnico e essencialmente religioso. O Messias a quem eu me prostro, mesmo que de sangue israelense, nasceu numa manjedoura, morreu sem ter onde reclinar a cabeça e foi cuspido e pisoteado pelos sacerdotes de sua alçada. Não quero mais ser como eles. Cansei de ser judeu.

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