Insuportável

           É insuportável saber que desde os tempos de Assis Chateaubriand e dos primórdios da extinta TV Tupi até os dias atuais, concedemos aos meios de comunicação todo o poder para nos vender padrões de vida feliz estereotipada pela riqueza, modelos de beleza redigidos pela tecnologia e passarelas da moda dos camarins de atores telenovelísticos.
           Parece que nunca haverá uma verdadeira intenção de se retratar a realidade nos veículos que teoricamente possuem este objetivo. O negro, o homossexual, o deficiente físico, o índio, o nordestino, o pobre e tantos outros tornam-se agentes do folclore nacional, personagens de estórias e parlendas que por dó e pena dos diretores das minisséries e novelas, são incluídos em seus roteiros megalômanos e milionários. A verdadeira existência portanto, só existe para os brancos caucasianos, que trabalham em empregos formais, com remunerações superiores a dois salários mínimos, que possuem no mínimo um carro do ano, uma casa própria em um bairro de classe média e uma família normal que se reúna no Natal. Insuportável sutileza da televisão!
            O pior não são os criadores destas histórias, vendidas a preço de atacado. Os ridículos e desperdiçados agentes de toda esta matriz irreal de parâmetros fictícios para retratar a realidade, somos nós, brasileiros naturalizados pela loucura de acompanhar até o fim, com direito a reprises que não valem a pena ver de novo, o final derradeiro de uma novela em que o clímax foi mais uma vez um paradoxo entre descobertas relacionadas à traição, assassinato e comportamentos hediondos de coadjuvantes e a ascensão do protagonista a um patamar de felicidade perante a sociedade, agora que todas as suas mazelas foram resolvidas. Insuportável vazio!
            Contudo, é insuportável suportar a indiferença de todos nós perante a ação mercadológica e fútil das novelas brasileiras, em que cultura, educação, ética universal e moral contextual são fatores raramente retratados nas cidades cenográficas de seus percussores. Não há preocupação com a criança na sala; o desrespeito ao idoso e a venda comercial do corpo e da honra feminina são outras encenações e insinuações que devem ser mitigadas urgentemente. Está na hora de sair do sofá, mudar de canal ou lutar por uma legislação a respeito. De fato, não é difícil dar fim ao problema, ao passo que somos nós que possuímos o controle nas mãos para fazê-lo, literalmente; pois se existe uma coisa na produção televisiva que é bastante clara, é que quando um programa de TV não dá ibope, ele desaparece.

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