É
contestável que o Evangelho transforma. A forma na qual somos
criados e pela qual passamos a existir quando somos concebidos, é pautada em um
certo orgulho transcendente de vida. Sentimos após a consciência da
idade, uma presença interna de algo único e intransponível: o
“Eu”. Mas posteriormente, este sujeito identificado e desenvolvido, passa a gerar
soberbas autoestimas em nós, o que nos interioriza e nos transforma
em indivíduos. Daí, o Evangelho só pode nos destransformar.
Apenas,
única e exclusivamente Jesus pode trazer-nos a humildade, as
sandálias de pau, os chinelos que simbolizam a ausência da elite,
dos aplausos, dos elogios, do tapete vermelho. Só Ele - um Deus
conosco - lavando os pés de seus discípulos (Jo 13:4,5), pode lavar
nossos olhos para nos mostrar que ainda somos como a neblina que
aparece e logo se dissipa (Tg 4:14), que nossas justiças são trapos
de imundícia (Is 64:6) e que não passamos de cacos de barro (Is
45:9).
O
Reino de Deus, portanto, é uma indústria que fabrica pessoas de
verdade, como deveriam ser, ou seja, gente gentil de coração,
simpática de alma, humilde de espírito, que pode se achar apenas como a última
Coca-Cola de uma boa adega de vinhos. Crente desta estirpe é quem o Pai procura para
lhe adorar (Jo 4:23). Ele não quer filactérios alargados ou franjas
alongadas (Mt 23:5), nem deseja orações na praça (Mt 6:5) ou
jejuns inconsequentes (Mt 9:14,15). Deus apenas caça como um caçador faminto, pessoas que reconheceram sua condição precária e
dependente de Graça.
Destransformar
o "super-homem", então, é uma ação espiritual das “Boas Novas”,
que traz consigo implicações de vida prática e conceitual. Ser
formado do pó da terra não é uma composição química muito
superior nesta Terra. Que lembremo-nos disso pelo menos na hora de
morrer, e que batamos no peito hoje, não com o significado
pejorativo da atualidade, mas com a compreensão histórica do
publicano frente à do fariseu (Lc 18:9-14), que o fez assumir sua
posição de pecador, obtendo assim o Reino dos Céus e sua, enfim,
glória e exaltação (Mt 5:3).
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