O protesto calvinista

É fato auferido por qualquer observação trivial da história, que a Teologia Calvinista nadou até aqui como um peixe errante na contramão da maré. A causa desta jornada ao avesso é que o portfólio teológico de Calvino está abarrotado de desacordos primários em relação às ideologias e filosofias teístas mais populares. E para explicitar tal constatação, mencionarei e concentrarei minhas fichas apenas na mais ousada doutrina apadrinhada pelo teólogo reformado: a Depravação Total.

Para mensurar o tamanho do caos opinativo que esta compreensão causou, considere o fato de que ter asseverado que o homem encontra-se em um estado pleno de trevas, pecado e incapacidade, fez Calvino bater no chão de Genebra uma estaca pública de discordância para com o pensamento milenar da confissão positiva, encarnado em roupagens diferentes nas religiões asiáticas, em técnicas de medicina alternativa e nos anais da psicologia ocidental. E foi tal atitude que transformou o teólogo francês em um partidário da oposição religiosa.

Os teóricos da confissão positiva comungam da opinião de que no homem existe um potencial para o bem de si mesmo e do mundo, um fluído de energias tão positivas que, se corretamente administradas, podem solucionar qualquer enfermidade ou distúrbio identificados no ser. Desta compreensão, nasceram métodos que, em menor ou maior porção, são disseminadores deste credo. Para tanto, cito a meditação, a Yoga, os mantras, a autoajuda, a regressão, a acupuntura, a repetição verbal do neopentecostalismo, dentre outras ferramentas.

Em contrapartida, é de fácil averiguação que o Evangelho de Jesus e de Calvino aponta um caminho oposto, no qual o próprio guia é o caminho, a vida para neste caminhar e a verdade encontrada no final de seu percurso. Não há independência, autonomia ou qualquer força intrínseca no homem que torne desnecessária a soberania e a providência divina em sua existência. Não há uma essência do bem, nem um vigor interno ou qualquer faísca de integridade que possa fazer do ser humano uma criatura melhor que os animais.

O homem é mau e incapaz, merece a morte e o inferno e carece de graça e perdão. Tudo o que há de proveitoso e positivo no universo tem origem no ser Deus. Apenas quando Este decide amar os homens, os chamando de filhos e comunicando a eles alguns atributos paternos, o Espírito Santo – este sim é bom e poderoso – passa a habitar neles, fazendo com que aquela depravação anterior deixe de ser total, para tornar-se parcial. Esta foi a conclusão de Calvino. Este foi o seu protesto.

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